terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Poços

Há quem diga que os olhos são espelhos da alma. Não gosto dessa analogia. Me parece muito mais adequado dizer que são poços.
A alma das pessoas é algo muito mais profundo do que parece, tão profundo que parece não haver profundidade suficiente nos espelhos para refleti-la. A alma, sendo portanto demasiadamente profunda, é como um poço. Em poços muito fundos, não temos como descobrir diretamente sua profundidade; então, jogamos uma pedra, atacamos o poço, lançamos algo ao desconhecido, para que haja resposta, um retorno - no caso, o som de seu fundo ou de suas águas.
De igual maneira se comporta a alma. Sua abertura para o mundo são dois poços; os olhos. Olhos que leem, olhos que assistem muitas vezes impotentes à espetáculos torturantes, olhos que veem a danação coletiva e individual.
Para que esses olhos-poço respondam ao ambiente exterior, se faz necessária uma ação prima. Tal ação prima, que pode ser uma frase, um ato, ou mesmo um olhar, é como a rocha lançada ao desconhecido. Na escuridão do poço a pedra deverá viajar, até então atingir as águas do fundo.
As respostas podem ser das mais variadas. Entretanto, nas vezes em que as pedras são grandes em demasia, sua natureza pesada, grandiosa requer uma pesada e grandiosa resposta. Agora, leitor(a), pense comigo: lei simples de física; toda ação corresponde a uma reação em igual intensidade. Pois bem. O que acontece ao lançarmos uma pedra numa superfície líquida? Ora, a água sobe! Exatamente.
Tendo isto em mente, não se faz nada difícil concluir que quanto maior a pedra, maior o volume de água a subir. E o que isto quer dizer propriamente? Quer dizer que se uma rocha muito grande for lançada nos poços de nossos olhares, há a possibilidade de que a profundidade do buraco do poço não seja suficiente para comportar tamanho volume de água, o que então ocorre é que dos poços jorram águas, águas pesadas correspondentes à pesada rocha lançada em seu interior comum, isto é, em sua "alma-lençol-freático".

Behind Brown Eyes
Para que não aconteça de águas jorrarem dos olhos-poço, surge a obrigação de se ter poços bem cavados, profundíssimos. Tão profundos, que fica impossível ver o fundo, tão profundos, que não é nem mesmo atrativo tentar mesurar esta profundidade com um argumento em forma de pedra.
E assim que isso se tornar a realidade de teus olhos, leitor(a), haverá quem vos diga: "Teus olhos castanhos escuros são tão profundos, que parecem vazios, não vejo nada, não vejo vida, não vejo você."

Um comentário:

  1. de fato, eu adoro olhos mas eu sempre achei que eram as janelas da alma... admito porém que gostei mais de pensar como poços, nao pela parte triste de sua profundeza que dificulta o acesso à alma mas pela sua ligaçao com à agua porque é jogando pedras que machucam nossas almas que jorram agua de nossos olhos. te digo, porém, que se a água nao jorra do poço e no mesmo as pedras permanecem um dia esse poço ficará cheio porque não importa o quão profundo cave, nunca será suficientemente infinito. portanto não cave profundo demais que ninguém chegue à sua alma mas deixe raso suficiente para aqueles que podem e querem retirarem as pedras e, quem sabe, com elas um pouco de agua.

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