sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Botões do teclado

Pensando aqui "com meus botões" e agora cá com meu teclado cheguei à seguinte frase: O desespero cria as atitudes mais inusitadas, especialmente em momentos difíceis, não oportunos e indevidos.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Tragicomédia: Tristeza no dos outros é refresco.

Tragicomédia: Tristeza no dos outros é refresco.: "Não gosto da tristeza. Dizem que ela é mais bonita, mais artística. Eu gosto mesmo é de sentir."

Vale a pena ler! Encontrei a postagem nesse blog, muito bom.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Conto (de) Passageiro

O cenário: cair da noite, fria e chuvosa.
Saiu do café com um ar conformado, com ar monótono. Ao menos havia tomado um café previamente adocicado, e havia acrescentado duas colheres a mais de açúcar. As coisas doces o agradavam.
Andou em silêncio, ouvindo suas músicas e desviando das poças de água que cresciam nos desníveis tortuosos das calçadas a medida que a chuva aumentava. Parou. Pôs a mão no bolso e tirou suas moedas. Pagou a passagem de ônibus. Esperou. Continuou ouvindo suas músicas e esperou mais.
- Lá vem o ônibus.

Como todos, se preparou para o embarque. Entre a pequena multidão que se espremia e se aglomerava próximo à porta, notou uma moça com cabelos brilhantes. Sentiu uma discreta vontade de poder ver seu rosto, mas ela estava de costas.
Entraram no ônibus.
Em meio à confusão de passageiros saindo, entrando, se sentando e se ajeitando, lá estava ela novamente, caminhando até o fundo do veículo. Sem notar, ele caminhou para o mesmo local; havia dois bancos vagos. De repente um rapaz o passou e se sentou onde pretendia se sentar. A moça se sentou logo atrás, precisamente no último banco bem ao centro. E ele, como não conseguira nenhum lugar, permaneceu em pé defronte à garota.

Pôde ver seu rosto. Era belo. Muito.
O ônibus inciava sua viagem.
Havia do lado dela um rapaz, mal encarado, um tanto estranho. Mas isso não era importante. Olhou para fora, e para as gotas que deslisavam pelas janelas. Porém, não pôde continuar a olhar para fora por muito tempo. Algo fazia com que voltasse sua atenção para a moça sentada logo a sua frente. Notara que ela não usava um calçado comum, era um calçado diferente, único. Notara sua blusa branca, e sua face; olhos esverdeados inebriantes, lápis de olho, nariz fino, lábios também finos coloridos com batom rosa avermelhado suave e brincos brancos pendurados delicadamente em cada orelha.

Tentou tratar de esquecer disso e voltou a olhar as gotas passeando pelas janelas, hora mais rápidas, hora mais lentas, de acordo com a aceleração do transporte. Tentativa vã. Olhou novamente para a moça. Ela adormecera. Bem, ao menos seus olhos estavam fechados e suas mãos pálidas repousavam uma sobre a outra. Tinha uma expressão em seu rosto; ele não foi capaz de distinguir se era cansaço, calma ou tristeza. Fixou o olhar e prestou atenção nela e se esqueceu dos outros passageiros por alguns instantes. Resolveu considerar que se tratava das três coisas juntas. Parecia um anjo. Era serena e doce. As coisas doces o agradavam. Desviou sua atenção de novo, mas desta vez para o chão. E assim permaneceu por alguns minutos.

"Como ela é bonita!" - pensava consigo. "Talvez vislumbrá-la apenas mais uma vez não seria má ideia, ela está dormindo tão calma..." - também pensara. Levantou a cabeça e ela o olhava diretamente. Sem querer se entreolharam, olhos nos olhos, por um segundo ou menos. Viraram suas faces para outro ponto qualquer simultaneamente, e ao mesmo tempo abaixaram suas cabeças. O ônibus finalmente chegou em sua primeira parada.

"Será que ela desce aqui? Muitos descem aqui.". Ela não desceu. Mas o susto e o incômodo o impeliram a se sentar, visto que muitos bancos ficaram vagos. Se sentou. Encostou a cabeça na janela embaçada e se meteu a pensar, a imaginar ações e falas com a bela desconhecida que sentava dois bancos atrás. Ações e falas diversas, e suas permutações em outras inúmeras ações e falas. Adormeceu.

"Cuidado com furtos no interior do veículo", era o que dizia a voz que o acordava. Ele se indagou se a garota ainda estava lá, mas havia gente demais para ver. Passou mais uma parada e um engarrafamento com esta questão em mente. Passado o engarrafamento, se aproximava seu destino. E o dela também. Ela passou por ele ao sair. Tentou tomar o mesmo caminho, mas o mesmo rapaz que o passara ao momento do embarque, o passou no momento do desembarque. Saíram. A garota havia se perdido.

Pegou se guarda-chuva embora não estivesse chovendo. Atravessou a rua, e viu a garota metros a frente. Pensou em oferecer seu guarda-chuva, uma vez que ela se encontrava sem. Ora, que ideia tola! Não estava chovendo. Oferecer o abrigo só o faria parecer um qualquer esquisito e oportunista - e talvez o fosse, no fundo o fosse, internamente, em seu âmago tinha isto como certeza. A garota colocou um capuz. Ambos ficaram presos no meio da avenida, entre os carros passando. Uma brecha. Atravessaram. Ele na beira da calçada, ela sob as marquises.

Uma quadra depois e a chuva volta a cair. "Agora sim, vou diminuir o passo e oferecer meu guarda-chuva". Olhou para trás e ela não se encontrava mais lá. Típico. Uma pena. Uma amargura, falta de doçura. Não era bom, entretanto a lembrança era fresca e era doce. E as coisas doces o agradavam.