segunda-feira, 30 de maio de 2011

Assobiar

- Senta.
...
- Sabe...
- Sinto muito!
- Ah, sente? Sei...
- Sério.
- Isso é sem sentido.
- Pra que sentido? Há sentimento.
- Saia! Não se pode falar de sentimento assim.
- Me recuso! Saiba que por ti eu sangraria.
- Seu sem noção, mentiroso.
- Saco... Como posso te satisfazer?
- Não sei.
- Veja; não somos santos.
- Nem sábios.
- Sim, eu sei.
- Quanto ao sentimento... Não sei se estou bem, estou sentida.
- Também sei.
- Meus sentimentos estão sempre sentidos não precisam de sabores mais amargos.
- Esse é só teu pensamento, não teu sentimento. Reconsidera. Volta.
- Ai, sei lá...
- "Sorry".


[Silêncio]

sábado, 28 de maio de 2011

½

Meio-dia. Meio frio, meia nuvem, meio sol.
Toda a volta do relógio mas só meia do girassol.
No meio da tarde, no meio da vida. Mudança? Ou tempo de meia-vida?
Viu o sol em sua trajetória; decaimento exponencial.
Com sua mente contradtória, pôde ouvir toda a força de uma chuva torrencial.
Vendaval.

Voltemos ao começo. Não! Ao meio.
Encontros no meio de um passeio.
Outro pensamento, outro devaneio.
Ah sim, o meio...
Meio saber, meia verdade, meia vaidade.
Meio pensamento, meio sentimento.
Meio sem sentido.
Meio.

Meio estranho, meio fanho
meio careta, meio cegueta.
Meio cansado, meio... ahn, quanto tempo ainda temos? Oh não; tempo de meia-vida mesmo?

Mei acaban , mei rastejan, mei sumin , mei cain
me corre, me qu morre
o te es...
a















[cabou]
[posso começar de novo?]

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Limbo - Parte 1

Fila, chamada, calada, carimbo. Destino? Limbo.

Cruzou a linha tênue que separa as duas realidades. Tudo adquiriu uma coloração mais azulada-acinzentada. Escutou o último som, que não era muito animador, antes de entrar no mundo escuro, onde as luzes artificiais típicas da noite não bastam para afugentar as trevas.

Se olhou no espelho, não conseguiu reconhecer o próprio rosto! Estava como sempre foi! Se olhou, deu meia-volta e olhou no espelho novamente. Não podia acreditar, estava exatamente igual, nem mesmo um arranhão. Não compreendeu.
Continuou. Desceu a pequena colina envolta em névoa, tomando cuidado para não cair por conta da grama escorregadia e da lama, passou por entre os arvoredos mortos com seus troncos escurecidos pela podridão onde habitavam os mais desgostosos vermes. Chegou ao fim da trilha lamacenta, sentiu frio, um frio de fim de outono... Por sorte, um sobretudo empoeirado estava pendurado no galho de uma árvore. Vestiu-o. O denso nevoeiro se dissipou estranhamente apenas alguns passos logo a sua frente, revelando uma casa escura, de dois andares, extremamente desgastada pelo tempo e má conservação - aparentava estar quase ruindo.

Sentiu um enigmático ar convidativo para se aventurar na estranha edificação. Abriu a porta, não sem um pequeno esforço, pois estava emperrada. Entrou. Uma sala decrépta surgiu perante seus olhos. Um corredor nada iluminado e com ar pesado o afugentou para uma escada muito suja de poeira. Subiu.

Chegou em um quarto, um quarto que contava histórias do passado. Histórias tão tristes, desgastantes, lamentáveis, macabras, sórdidas que pouparei o(a) leitor(a) dos detalhes. Como numa epifania, sua visão até então turva, ficou perfeita. Ainda mais que perfeita; passou a possuir uma minuciosidade, uma capacidade de enxergar em mínimos detalhes todo o quarto onde se encontrava, Apesar disso, decidiu por tatear a parede, e, como se tratava de um ático, pode encostar na junta da parede com o teto rebaixado. A junta era mal feita, ou ao menos, estava dilatada por conta dos muitos anos de abandono. Pôs o dedo na junta instintivamente. Não havia nada dentro da mesma.
Repentinamente, um sopro gelado passou pelo quarto decadente através das frestas e buracos nas janelas. Luzes se acenderam. Pequenas luzes: vagalumes. Iluminaram uma aranha que andava na parede, próximo de sua mão, que logo se recolheu.

Ouviu sons findos do lado de fora, parecia que alguém estava por perto.
Desceu correndo as escadas, abriu a porta que havia se fechado. Tudo o que pôde ver foi um vulto que rapidamente se enfiou no mato seco se escondendo entre as árvores mortas e dentro da serração. Chamou por alguém. Não houve resposta. Chamou mais uma vez. Mais uma vez o silêncio.

Ficou solitário, inserido nas trevas, envolto em névoa espessa, no frio e principalmente, sem saber o que viria. O medo percorreu todo seu ser como uma anestesia. Fechou os olhos.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Miseráveis

Estava sentado sozinho numa palestra esta noite, e na cadeira, estava riscada, por ironia ou não, a seguinte frase:


"Heaven knows; I'm miserable now!"

Pois é, apesar de não passar por carências materiais, a miséria é presente, no âmago de tudo, de um todo, ela está lá.
Boa noite.

domingo, 22 de maio de 2011

Que Falem os Ébrios

Estou lendo o Elogio da Loucura - onde quem fala ao leitor é a personificação da loucura - para a faculdade, estou num ritmo lento, entretanto, estou gostando do livro. Cada parágrafo se revela melhor que o anterior. Mas este parágrafo a seguir cativou mais do que outros minha atenção. Muito pertinente. E verdadeiro.
Segue:

"Entre os louvores feitos a Baco, o mais glorioso, certamente, é aquele que dissipa as preocupações, as inquietudes e os sofrimentos. Mas não por muito tempo: passada a bebedeira, o bêbado retorna aos desgostos de sempre. Não é a felicidade que proporciono aos homens bem mais completa e mais doce? Mergulho-os numa embriaguez contínua, a alma deles nada incessantemente num mar de prazeres e de delícias, e tudo isso sem custar-lhes nada."

- Erasmo de Rorterdã (1466-1536).