sábado, 14 de janeiro de 2012

Em voz alta.

Cada vez mais
sei que é arte.
Tudo é, em seus anais.
Mas sabe como é, homens são de Marte.

Arte, como a do amigo que sonha, com as vergonhas
da moça do cartaz.
Que se imagina, ele, com  ela, com as fronhas.
Por esta, seria capaz, seria capataz.

Cada vez mais
sei que é arte.
De homens, não de animais.
Mas sabe como é, a falta, faz parte.

A garota que deita.
O quadro que desenha.
A faixa de areia, estreita.
O rapaz a quem desdenha.

Cada vez mais
sei que é arte.
Aqui, no Rio, na ilha, ou nas Minas Gerais.
É coisa que dura, que nem o tempo reparte.

Um outro mês
madrugada a dentro.
Ouvindo sempre aquela música em francês.
Lembro dessa e daquela, não me concentro.

Cada vez mais
penso que é tarde.
Escrevo notas dos pensamentos abissais,
Findarei este em voz alta, mas sem alarde.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Dezembro

Esse é um post diferente. Li o blog de um amigo e fiquei inspirado a escrever. Mas não do jeito que sempre escrevo, do jeito que eu conversava com uma velha jovem dias atrás. É uma cópia adaptada, algo escarrado isso aqui. É grande. Não sei se é legal. Mas eu acho. Leia quem quiser.

Fazia um frio incomum aquele fim de ano. Na TV falaram que a temperatura aqui estava 6 ou 7 graus abaixo da média mínima. É, eu gosto de meteorologia, não tenho o que fazer mesmo.
Lembro de um sábado que acordei cedo, comi um pão, me arrumei, liguei o carro, esperei esquentar e fui trabalhar. Tava escutando alguma música alternativa, como costume. Chovia. Estacionei. Fiquei olhando reto e pensando: "Tomara que eu não pegue nenhuma aluninha tosca de manhã. De manhã é sempre pior dar aula. Eu queria dormir e comer chocolate. Ah foda-se, tenho que fazer isso."
Peguei o guarda-chuva, os fones de ouvido. Tranquei o carro. Fui andando, cansado. Era legal ver a fumaça da minha respiração. Bati ponto. Dei aula. Ao meio-dia já estava bem quente, mas lá dentro não. Continuei com o moletom. Almocei. Dei mais aula. Tinha aquele casal gente boa. Eram os mais legais de dar aula. O dia foi legal até, não tive nenhuma aluninha tosca. Era a mesma bobagem de sempre.
Fui pra casa, já tava bem quente e não chovia no final do dia. Ainda vestia o moletom. Gosto daquele moletom.

É, isso foi no começo do mês.
Depois tive umas provas que ou me fodi, ou me dei bem. Sem meio termo. Sem eufemismo.
Jantei no RU um outro dia. Como era bom jantar naquele "RU chique" que o povo das engenharias tem o privilegio de desfrutar sempre. Talvez o povo de humanas tenha que se foder mesmo. (acabo de expressar um sorriso ligeiro). Tava bem quente. Finalmente era Dezembro. Fui despedido. Fiquei de boa. Não era um problema - não ainda. Não precisei trabalhar naquela segunda. Perguntei se ainda poderia ir na festa da quarta-feira, no amigo secreto. É que eu não queria deixar um livro de poesias em alemão mofando no meu quarto. Não sei ler alemão.
Fui na festa. Não foi "a festa", mas foi muito melhor do que eu esperava. Estava certo que veria aquelas pessoas pela última vez. Durante a festa não estive tão certo assim, mas ao final a certeza voltou. Ganhei um DVD do AC/DC. Muito bom aliás; ele me lembrava da época em que eu era mais animado e escutava hard rock. Já se foram quatro anos. Sei que é coisa de velho, mas 'parece que foi ontem'.
A festa degringolava, estava acabando. Algumas verdades surgiam. Uma música horrível estava tocando, era realmente insuportável. Mas as pessoas, conhecidas há muito, há pouco, ou desconhecidas estavam sendo muito legais comigo. Me senti bem - eu não esperava por isso aquela noite.
Tinha um povo mais descolado. Um piá estrangeiro... E ele tava afim de uma guria linda. En effet très jolie! Ela era muito astuta. Não era retardada, muito menos vadiazinha. Tinha bom gosto, e sabia disfarçar as investidas dele muito bem. Todos quase sabiam fazê-lo. Até eu. Pensei em manter contato, mas ah! não ia adiantar. Ela tem namorado, os outros eram apenas conhecidos. E eu não era nada perto dela, eu acho.
Saí com os caras, eles pegaram o ônibus na outra direção. Acho que iam fumar maconha na casa de um deles. Fiquei no tubo esperando o meu ônibus. Demorou uma eternidade pra mim. Mas foi legal, era tarde, quase meia-noite, e eu ficava lá, sozinho, num dia morno, de vento frio, dentro do tubo com as luzes apagadas (ou estragadas mesmo), com meia-luz. Tinha uma puta que chegou depois. Fiquei lá, ouvindo meus 'indiezão' (como diz um amigo meu). Troquei, quis ouvir Pearl Jam. Bem melhor. E ficamos lá. Um bêbado, o cobrador sentado na escada, um espaço de três metros ou mais, a puta e eu, na sombra. O ônibus chegou, fui pra casa, entrei, comi, tomei banho e dormi.

Um fim de semana, fui num bar. Era pra escutar rock. O grande rock. Mas era um aniversário. Tava todo mundo agitado, meio louco. Todo mundo de todos os lugares foi pra lá naquela noite. Alguns jogos, umas putinhas fáceis. Peguei elas. Voltei a mim depois de um tempo. Todos voltaram. Fui pra casa, tomei um suco de laranja muito gostoso. Fim de semana legal. As coisas estavam estranhamente bem para a época da minha vida que já se estendia por mais de dois anos e meio. Bom isso. Ah, e foi uma vingança estar bem comigo mesmo. Uma vingança para com todos aqueles filhos da puta que duvidavam e me zoavam. E especialmente uma vingança para aquela lá do começo do ano.

Dias depois, não queria mais putinhas. Essas você encontra em qualquer lugar. São quase uma praga. Essas nem você, nem elas lembram dos nomes. Tava conversando com o pessoal na escada, tava todo mundo tranquilo e preocupado ao mesmo tempo. Mas era bom. Resolvi chamar uma guria legal pra tomar um café, mas acabamos indo tomar uma cerveja e comer. Falamos de muita coisa. Falar de muita coisa é quase meu dom divino - se deus existisse. Andamos até a pracinha, na frente do tubo nos despedimos. Ela agradeceu a companhia e me deu um abraço diferente, que devo dizer, foi um dos melhores em praticamente um ano. Fui pra casa.

Dias depois, na faculdade, fizemos as últimas provas, assistimos as últimas aulas e aquela merda toda acabou. Momentaneamente, na verdade.
Fui pra casa de um cara que se revelou grande amigo, Kotaka. O piá tem suas esquisitices, mas eu também tenho, mais até do que ele eu diria; e afinal, quem é que não é esquisito nessa cidade?! Enfim, ficamos comendo e bebendo bem, jogamos, relaxamos e ficamos conversando com os pais dele - povo legal -, depois conversamos sobre a vida, sobre o passado de uns anos atrás, conversamos sobre garotas, era inevitável falar de garotas, todo homem entende. Falamos de umas coisas sérias depois, mas sempre tinha umas piadinhas no meio, pra ficar mais descontraído. Foi ficando tarde, digo, para ficar na casa de alguém em dia de semana. Voltei pra casa a pé, escutando Eddie Vedder, vendo as casas bonitas daquela parte do bairro, vendo o colégio, lembrando do tempo do colégio. Lembrei daquela guria que eu gostava no colégio, é verdade. Pensei no que poderia ter sido se não. Passei na frente da casa da Gabi, guria legal também, aprendi a gostar ela com o tempo. Eu estava contemplativo, estava feliz. Andei pela Salgado Filho, como nos tempos de colégio, de feirinha, de hapkido. Ótima noite.

Mais alguns dias, já era férias. O tempo começou a esfriar de novo. Chegou a fazer 12ºC numa noite. Muito bom isso. Pude colocar aquele moletom que eu gosto por alguns dias. Meu cunhado, irmã e sobrinho foram pra Minas. Eu fiquei em casa com meus pais. Assisti alguns filmes, terminei de ler o livro sobre poesia medieval que não tive tempo de ler no fim do semestre. Mas o que mais marcou foi o livro que o Kotaka me emprestou; Na Natureza Selvagem. Que livro bom, que história (não estória) boa! Muito boa! Todo mundo tinha que ler esse livro. Fiquei escutando o CD do Eddie e lendo o livro alguns dias. Terminei mudado, tenho certeza.

Natal. Não tinha nada de especial pra comer. A casa está toda zuada por causa dos pedreiros malditos. Nada de presentes, só um chocolate. Me lembrou a páscoa. Chocolate gostoso. Frio e garoa no natal. Bem estranho, mas definitivamente agradável. Não teve nada, mas foi o melhor natal da minha vida. Eu estava tranquilo. A jovem idosa me disse que não fazia sentido desejar bom natal, não acreditando em deus. Talvez faça sentido. Mas ainda acho bom desejar bom natal, por costume, por educação, ou por algum motivo bobo - se você ler isso, desculpa, haha.

Mais dias de chuva e frio. Já me admirava como durava esse friozinho fora de época. Ano novo, ou melhor; último dia do ano. Toquei bateria um pouco. Back to the basics. Assisti um filme qualquer, ambientado numa floresta. Eu gosto de filmes ambientados em florestas. Só era estranho o fato desse filme ser britânico, parecia errado. Lá fora tinha um monte de babaca fazendo barulho, estourando fogos. Sempre me pergunto por que motivo eles não deixam para estourar tudo à meia-noite? Seria uma queima de fogos muito mais bonita e longa se fizessem isso; mas todo ano fazem a mesma idiotice... Não vi o último pôr-do-sol, nem queria ver, o filme era mais legal. A janela dos fundos estava aberta, e eu, ainda vendo o filme. Minha mãe me interrompeu pra uma oração de fim de ano. Eu aceitei.
No quarto dela, ela séria e esperançosa, meu pai com um ar de "só tô aqui porque é minha esposa" e eu em silêncio também. Ela fez a oração, parecia ter fé, não sei. Meu pai cruzava os braços e me olhava, olhava pra ela, mas não dava pra saber direito o que ele tava pensando. Ela com certeza queria que eu tivesse fé de novo. Respeitava isso, por isso fazia silêncio. Mas, as coisas que ela dizia na oração, eram risíveis para todo descrente. Segurei o riso, em respeito à fé alheia. O deus dela já foi meu deus anos atrás. Mesmo assim, quis muito rir. Só que isso seria muito filho da puta. Ela terminou. "Amém", disse ela, e nos olhou esperando que eu e meu pai também disséssemos, mas não falamos nada. Ela abraçou ele, e eu quase ri. Ela disse: "Pode rir." Eu ri. (João 11:35???) hahaha, acho que não naquele dia.
Voltei a ver o filme, quando de repente, fogos estouraram no meu telhado, eu corri e vi toda aquela fumaceira pela janela. Comecei a berrar xingamentos aos vizinhos que mantemos uma relação de ódio mutuo. Chovia, fui na rua, mas não tinha ninguém. Só uma velha, vizinha, que voltava de algum lugar com uma sacola. Nas casas da rua de cima, alguns carros e uma música cafona que tocava há quase 10 horas. Eu queria brigar. Mas não tinha ninguém. Voltei pra casa, tomei banho e comemos. Fogos e fogos, e 'feliz ano novo'. Meus pais foram dormir e eu assisti um episódio de uma série que passei a acompanhar antes de ir fazer o mesmo.

Bom Dezembro.