terça-feira, 22 de março de 2011

Polícia para quem Precisa de Polícia

Como consta na página sobre este blog, eu sou aluno de História na Universidade Federal do Paraná.

Pois bem, como ocorre anualmente, este ano tivemos o tradicional churrasco dos calouros no parque São Lourenço. Então, estávamos todos no parque, passamos a tarde lá e parte da noite também. Eu saí de lá às 8pm junto de outros 3 alunos.

Enquanto nós estávamos deixando o parque, uma guarda municipal (de Curitiba) que estava trabalhando no parque no dia do churrasco (último sábado, dia 19 de Março de 2011) alegando, falsamente, ter sido agredida chamou algumas viaturas da Guarda Municipal de Curitiba para o local.

Eu e meus amigos vimos três viaturas correndo para o parque, e, depois de uma tentativa frustrada de tentar entrar pelo lado do Mercadorama, seguiram em disparada para o outro lado do parque, onde se encontraram com pelo menos mais sete viaturas segundo o que me foi dito pelos que ficaram ainda no churrasco.

Após as viaturas terem se diregido ao local, os guardas municipais praticaram um ato completamente condenável. Atacaram com spray de pimenta e cacetetes os alunos de História da UFPR, além de terem se valido de intimidação física e psicológica através de armas de choque. Vários alunos foram agredidos, e têm ainda nos corpos as marcas da violência gratuita. Tentativas de diálogo foram infrutíferas e seguidas de mais repressão por parte dos guardas, evidenciando assim uma péssima atitude da Guarda Municipal nesta situação e porque não o despreparo dos mesmos para lidar com situações banais sem o uso de violência em forma de agressões físicas. Houve inclusive um aluno preso.

A Guarda Municipal alegou que o churrasco perturbava a ordem pública. Ao meu ver, isto é incoerente em primeiro lugar porque o parque São Lourenço é um parque público e dotado de churrasqueiras, portanto como todo brasileiro tem direito de ir e vir, e de utilizar espaços públicos destinados ao lazer para o lazer, nada de errado estava se passando. Em segundo lugar, a alegação da Guarda Municipal é incoerente, pois o incidente ocorreu pouco depois das 8pm; ou seja, dentro de um horário aceitável, uma vez que apenas a partir de 10pm é proibido sons altos - que por sinal, não haviam onde os alunos se encontravam, tudo o que havia eram dois violões, que obviamente não produzem sons muito altos que possam ser notados a uma distância maior que 100 metros, e como o parque é grande, nenhuma residência estaria sendo perturbada.
Aproveitando a ocasião, um dos postes na região das churrasqueiras no parque não funcionava na noite do último dia 19 de Março, espero que este pequeno problema tenha sido resolvido.

Voltando à grande questão, a violência da Guarda Municipal de Curitiba contra os estudantes de História da UFPR, ainda tenho a informação de que um dos presentes durante o ataque da G.M. ligou para a Polícia Militar para que os alunos fossem defendidos. Você leitor(a) nota a gravidade disto, certamente! Que absurdo! Um grupo de cidadãos, ao ser agredido sem motivos por guardas que deveriam proteje-los em teoria se vê na necessidade de pedir socorro para a polícia, ou seja outros guardas, policiais. Isto é inaceitável! Pessoas precisando que um corpo de defesa pública os defendam de outro corpo de defesa pública! Sinceramente, estou revoltado.

Outra ocorrência que merece destaque foi a falta de caráter da Guarda Municipal de Curitiba; ao perceber os apelos e tentativas de um aluno para que a bárbarie fosse filmada por celulares, um dos guardas sacou seu cacetete e para evitar que a ação brutal fosse filmada (e depois divulgada na mídia), bateu com o cacetete na mão com a qual o aluno segurava seu celular no âmbito de filmar a triste atitude.

Por fim, como se não fosse o bastante atacar pelas costas alunos que estavam literalmente fugindo de quem os devia proteger, os guardas municipais comeram o churrasco deixado para trás pelos alunos. Deplorável.


Bem, peço que você leitor(a) divulgue esta postagem para todas as pessoas que puder. Não podemos deixar este fato trágico ser esquecido!
Haverá uma passeata contra este ato da Guarda Municipal no dia 1 de Abril aqui em Curitiba. Locais do protesto ainda estão a combinar, mas com certeza postarei assim que tudo estiver certo. Convido a todos que participem.

E por falar em protesto, haverá nesta quinta-feira, dia 24 de Março, um protesto contra o preço abusivo da tarifa de ônibus em Curitiba e região metropolitana, que há algumas semanas é de R$2,50. O protesto começará na Praça Tiradentes, no Centro, à 1:30pm. Gostaria de convidar o leitor(a) para participar também deste protesto que afeta a sociedade curitibana como um todo.

Sem mais para o momento, termino esta postagem com pesar, revolta e com o silêncio de reticências:
...

quinta-feira, 17 de março de 2011

Saltos de Cristal

Não era a primeira vez em que eu passava a noite em claro. Normalmente ficava um final de semana inteiro sem dormir, tudo pelo simples prazer do silêncio que perpetuava nessas madrugadas. A cidade inteira adormecida e eu, sentado na mesa da cozinha, escrevendo. Criando destruição e caos. No papel em branco eu era um deus. Criava por ódio e destruía por amor. Cuspia e explodia em tudo o que era mais belo. Rabiscava no mundo. É um passatempo piegas, mas levemente divertido. Uma espécie de válvula de escape que criei para abafar toda essa merda. Mas dessa vez, o que me fez ficar acordado foi ela. O único motivo dessa desgraçada madrugada. Foi ela. Saiu de casa no início da noite, e não voltou. Restou-me esperar. Esperar...

Uma aflição estranha tomou conta de mim, quando me levantei da poltrona e fui olhar da sacada do edifício em direção a rua, que insistia em continuar deserta. Como se numa última tentativa desesperada, eu fosse checar se ela estava realmente vindo. O dia já estava amanhecendo, e nada dela voltar. Passei uma noite inteira esperando e pensando nela. Não sabia realmente onde havia ido... Estava com a cabeça pesada e confusa por tamanho esforço em permanecer acordado, apenas esperançoso em ouvir o eco de seus saltos batendo no corredor. Ouvi alguns ruídos, mas não via ninguém. Talvez fosse ela vindo e, por um instante uma alegria se apossou de mim e me fez sorrir, como se apenas ouvindo aqueles ruídos, todos os problemas que confabulei naquela madrugada fossem amassados e deixados para trás. Eram da chuva, aqueles ruídos. Fiquei observando as gotas caindo fracas na rua, preenchendo antigas poças de água e, por um momento, esqueci de ter ficado a noite inteira aguardando. Ela não chegava, apenas a chuva.

Talvez tenha ficado ofendida com alguma coisa que eu devo ter dito na última noite em que passamos juntos. Realmente não me lembro. Não sou do tipo de pessoa que ofende outras por pura diversão, ainda mais ela. Mas então qual seria o motivo dessa ausência, desse abandono repentino? Cristo! Como sou dependente das mulheres. Sinto falta de ar só de pensar em viver sem elas. Mas ela, com toda a certeza que sinto em meu peito, ela era especial. Posso jurar isso. Porra. Continuo confuso, mesmo sabendo que deveria permanecer calmo e paciente. Ela disse que voltaria. Sempre disse isso. Merda e merda. Ficar esperando todo aquele tempo estava me deixando enjoado. Tive a impressão de que tudo aquilo não passava de um pesadelo. Acendi outro cigarro e fiquei observando novamente a rua. A chuva já tinha cessado, mas o céu continuava cinza, como se até o tempo estivesse afogando minha esperança de tê-la em meus braços.

Pude ouvir o movimento prematuro de carros circulando pela região. Já havia indícios de uma cidade acordando. Motores ligando, buzinadas e arrancadas de pneus. A vida continuava.

Foi quando decidi que não deveria mais ficar enclausurado naquele apartamentinho. Resmungando com meus próprios pensamentos, como um louco que aguarda durante o pouco tempo que lhe resta. Até que entendam e concordem com a sua loucura, antes que seja tarde demais. Apaguei o cigarro, peguei um casaco que estava jogado no canto da sala e fui descendo as escadas. A cada degrau vencido, sentia uma forte expectativa de me encontrar com ela logo na porta do edifício. Nulas projeções. Meti as mãos nos bolsos e fui descendo lentamente a rua de paralelepípedos lisos de cerração, fruto de uma madrugada calamitosa. O ar frio me queimava as narinas e meus olhos começaram a lacrimejar por causa do vento que bateu em meu rosto. A idéia dela ter fugido começou a perambular pela minha cabeça. Talvez seja melhor assim. Ser mais um calhorda solitário e perdido pelas esquinas dessa cidade caótica e fria de emoções.

Ao me deparar com os primeiros raios de sol que penetraram por entre minhas retinas, uma sensação de renovação tomou conta de mim. Estava livre e sem peso algum. De uma hora para outra, me tornei uma pessoa confiante. Aquilo me alegrava... Foi uma sensação de renovação estranha. Pouco importava o que se passou na última noite. Virei a esquina com passos firmes e, sem hesitar fui em direção a um bar que ainda estava aberto depois de toda aquela madrugada. Nunca fui de ir a botecos, são sujos, entupidos de perdedores e prostitutas velhas. Não tive escolha e entrei. Me sentei no balcão e esperei o barman atender. Pedi uma, duas, três doses de cachaça e esperei algo extraordinário acontecer. E, de fato, aconteceu.

Apareceu uma garota encantadora, aparentando dezenove anos e lábios virgens -como diria o velho vampiro. Veio falar comigo, me chamou por um nome que nunca tinha ouvido falar e estranhei. Fiquei pensando como uma garota como aquela estava fazendo naquela espelunca falida. Ela não era uma... Não poderia ser. Talvez fosse filha do dono do boteco ou alguma coisa parecida. Meu coração começou a bater cada vez mais forte, na medida em que ela se aproximava de mim. Chegou próxima. Muito perto, e sussurrou no meu ouvido.

- Eu te amo... Adorei nossa última noite.

Talvez ela tenha me confundido com outro. Pedi mais uma dose, virei as costas a ela e fingi estar compenetrado nas imagens que passavam na televisão muda.

- Ei! Não vire as costas para mim! Deixa pra lá... Como foi a noite querido?

Resolvi prosseguir com a conversa. Ver até onde ela iria chegar.

- Perturbadora.

- Você parece cansado. Ei, olha pra mim enquanto falo com você, que merda, qual é seu problema?

Resolvi ser direto e no mínimo sincero. Todo aquele papo estava me deixando irritado.

- O problema é que nunca vi você na minha vida, agora faça o favor de calar a boca! Eu não me misturo com essa sua laia!

- Minha laia? Vá a merda seu cretino maluco! Ficou louco mesmo. Não se lembra nem com quem trepou na última vez!

Ela saiu de perto de mim, dando longos passos num caminhar sensual. Longos passos naqueles saltos enormes. Longos saltos de pés tão delicados...

A. Michalzechen

domingo, 13 de março de 2011

Fim

Recentemente li um livro que diz que tudo o que vem, traz consigo, desde o começo, seu próprio fim. Não pude deixar de concordar. As coisas são finitas. A finitude desagrada, mas depois do fim isso já não importará tanto.

O fim está em tudo. O fim às vezes tão romantizado, outras tão temido e indesejado. O fim de tudo. O fim do mundo. Desde o começo, o fim.

Esse fim de muito, esse fim de pouco.
Fim doído que te deixa louco.
Fim calado, gelado. Fim marcado.

Esse fim polido, esse fim robusto.
Saudade de teu busto.
Fim da verdade, da amizade. Fim  da sobriedade.

Esse fim antigo, esse fim moderno.
Fim eterno.
Fim que arde, fim da tarde. Fim covarde.

Esse fim sempre presente,
como alguém querido em uma partida,
sorrindo pra gente.

Esse fim do verão,
fim que com pau e pedra na mão nos diz "não".
Fim maldito, de um delito. Fim erudito.

Esse fim que encanta e que machuca. Deixa as lembranças das gotas de chuva batendo na cara. Nostalgia, que resiste, resiste a você. Resiste ao fim. Fim da xícara de chá, da xícara de café. Fim da esperança, fim do sonho de criança. Fim das idéias. Fim de noite. Fim do escrito, escrito no começo do fim de um fim de semana.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Seleção de Clipes

How Soon is Now? - Smiths

Love Will Tear Us Apart - Joy Division

We Are Going to Be Friends -White Stripes
Pois bem, três clipes, de três bandas diferentes para três noites deste fim de semana.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Palavras

Nossas palavras são rascunhos de sentimentos e pensamentos inconstantes e indizíveis. Quantas são as vezes no dia-a-dia em que tentamos exprimir nossas aspirações mais sinceras e falhamos pois seu sentido não cabe em uma palavra, ou uma frase? Esqueça o que foi dito, as palavras não existem por haver sentido em nelas mesmas; nelas há sentimento. Que angústia não ser capaz de disseminar, de expor o verdadeiro sentimento característico de cada palavra em cada situação!

O ser humano mesmo em sua complexidade não está apto para viver sozinho, à deriva (por mais que assim se sinta). Não sendo auto-suficiente, se fez necessária a palavra, a elaboração das mesmas, as orações, a comunicação enfim.

Palavras-cruzadas lançadas ao acaso
A comunicação, base da complexidade humana, presente no cotidiano de cada indivíduo, sujeita à livre interpretação das palavras - sem valorações de boa ou ruim, não, isso não - que nos são ditas torna-se também arma nata do homem. Desde cedo proferindo o que considera pertinente a ser compartilhado, o homem se torna o homem-palavra.

O homem cresce, se desenvolve e segue a proferir suas palavras. Um dia pára para refletir sobre elas. Mais uma vez; que angústia! Se vê perdido em meio a um turbilhão de frases, de avisos, de leituras, de imagens que lhe falam, de conversas e discussões. Todas soam como palavras-cruzadas lançadas ao acaso, dotadas uma pretensão frustrada, ecoando na mente do homem, este homem-palavra que já não tem controle sobre a palavra. Este homem que agora é escravo da dúvida, da subjetividade, da interpretação da palavra. Este homem que agora não é mais palavra.

Sem a palavra não pode mais tentar contar ao entorno seus sentimentos, mas nem por isso deixa de senti-los.

Depois de certo tempo, o homem volta a ser palavra; afinal ele sempre foi escravo da palavra, e a palavra sempre teve natureza dual sendo senhora e serva do homem. Serva má é verdade, serva que não atende a todas as necessidades; senhora dona de uma sutileza impetuosa que prende a todos. A palavra sempre atrelada aos homens. Para sua alegria ou sua ruína, sempre com suas duas faces a existir mesmo depois do homem, mesmo depois do homem voltar a ser homem-palavra... A palavra existirá em si, enquanto palavra proferida por outro homem.

Que fique claro que nem este, nem nenhum texto jamais estará apto a expressar francamente o real intento das palavras tão pouco os sentimentos a elas agregados.