domingo, 27 de fevereiro de 2011

Onde Está a Divisa?

" O que está fora da vista perturba mais a mente dos homens do que aquilo que pode ser visto."
- Caio Júlio César (100a.C. - 44a.C.)

Você já se sentiu no limiar da nostalgia e da ansiedade? Se sim, conte como foi.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Poços

Há quem diga que os olhos são espelhos da alma. Não gosto dessa analogia. Me parece muito mais adequado dizer que são poços.
A alma das pessoas é algo muito mais profundo do que parece, tão profundo que parece não haver profundidade suficiente nos espelhos para refleti-la. A alma, sendo portanto demasiadamente profunda, é como um poço. Em poços muito fundos, não temos como descobrir diretamente sua profundidade; então, jogamos uma pedra, atacamos o poço, lançamos algo ao desconhecido, para que haja resposta, um retorno - no caso, o som de seu fundo ou de suas águas.
De igual maneira se comporta a alma. Sua abertura para o mundo são dois poços; os olhos. Olhos que leem, olhos que assistem muitas vezes impotentes à espetáculos torturantes, olhos que veem a danação coletiva e individual.
Para que esses olhos-poço respondam ao ambiente exterior, se faz necessária uma ação prima. Tal ação prima, que pode ser uma frase, um ato, ou mesmo um olhar, é como a rocha lançada ao desconhecido. Na escuridão do poço a pedra deverá viajar, até então atingir as águas do fundo.
As respostas podem ser das mais variadas. Entretanto, nas vezes em que as pedras são grandes em demasia, sua natureza pesada, grandiosa requer uma pesada e grandiosa resposta. Agora, leitor(a), pense comigo: lei simples de física; toda ação corresponde a uma reação em igual intensidade. Pois bem. O que acontece ao lançarmos uma pedra numa superfície líquida? Ora, a água sobe! Exatamente.
Tendo isto em mente, não se faz nada difícil concluir que quanto maior a pedra, maior o volume de água a subir. E o que isto quer dizer propriamente? Quer dizer que se uma rocha muito grande for lançada nos poços de nossos olhares, há a possibilidade de que a profundidade do buraco do poço não seja suficiente para comportar tamanho volume de água, o que então ocorre é que dos poços jorram águas, águas pesadas correspondentes à pesada rocha lançada em seu interior comum, isto é, em sua "alma-lençol-freático".

Behind Brown Eyes
Para que não aconteça de águas jorrarem dos olhos-poço, surge a obrigação de se ter poços bem cavados, profundíssimos. Tão profundos, que fica impossível ver o fundo, tão profundos, que não é nem mesmo atrativo tentar mesurar esta profundidade com um argumento em forma de pedra.
E assim que isso se tornar a realidade de teus olhos, leitor(a), haverá quem vos diga: "Teus olhos castanhos escuros são tão profundos, que parecem vazios, não vejo nada, não vejo vida, não vejo você."

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Dinamismo Estático

Noite de sábado. Quem não saiu, por qualquer que seja o motivo tem algumas opções de se entreter em casa. Pelo menos, era assim nos anos 1990.atividades Lembro que a família se reunia para assistir filme em VHS locado, enquanto comia pipoca (e domingo de manhã era preciso rebobinar as fitas -tédio)...

Mas sem mais rodeios ou saudosismos, vamos direto ao assunto:
Uma noite de sábado tem a capacidade de ser quase tão bucólica quanto um por-do-sol de domingo. Para quem não sai, obviamente, e mesmo para quem sai, porque não poderia ser? A questão é; visualize uma cidade num sábado à noite. Quantas pequenas histórias acontecem ao mesmo tempo; pacatas, chatas, entediantes, incríveis, animadas, transformadoras, reveladoras, enfim... poderia passar o resto da noite a dar adjetivos aqui. Algumas estão em bares badalados em avenidas luxuosas, outras estão assistindo filmes em casa, outras comendo qualquer coisa, outras na internet, outras namorando, outras sobrevivendo e por fim, algumas outras a pensar. Dentre estas que gastam a noite a pensar, a refletir, existem pessoas que enquanto refletem se inserem em um estado de contemplação, em um estado de desprendimento, onde adquirem caráter puramente passivo.
Estas pessoas passivas e contemplativas pensam, pensam sobre os mais diversos temas, refletem sobre os outros, sobre as ações, sobre esse dinamismo de fatos, de acontecimentos diários (ou melhor dizendo, noturnos), dos quais elas participam muitas vezes por falta de escolha. Percebem algo! Estão frias, estão estagnadas, estão estáticas. Que triste nirvana... Voltam a si, e se veem rodeadas de coisas desagradáveis, e desejam voltar para a densa névoa de seus pensamentos profundos a respeito do todo, de tudo. A mente acabou por se tornar melhor que o mundo concreto, que triste realidade. Repensam. Ponderam.
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Sim. Realmente era melhor, era preferível estar imerso em suas próprias contemplações do dinamismo estático de si mesmas.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Sonhos Lúcidos


Em 1867, o escritor francês Léon d'Hervey de Saint-Denys, ao publicar seu livro intitulado "Les Rêves et les Moyens de les Diriger", discorreu sobre os sonhos lúcidos. Mais tarde, já no século XX, o psicólogo Stephen LaBerge definiu este tipo de sonho como o ato de se estar "sonhando enquanto sabemos que estamos sonhando".
Não sei quanto ao(à) leitor(a), mas eu já tive sonhos lúcidos. A sensação é fantástica na maioria das vezes. Outra experiência muito interessante é o sonhar acordado. E mais interessante ainda é um sonho lúcido acordado!

Hoje pela manhã eu estava deitado numa mureta, terminando de ler um livro, quando então decidi abaixar o livro para descansar. Foi então que me deparei com uma cena banal, (esta, que ilustra a página) mas que me chamou muito atenção e me fez querer uma outra vida. Uma vida digamos assim, idealizada. Não sei dizer ao certo se sonhei acordado, mas a idealização era tão grande e a vontade tão intensa que me pareceu um sonho; um sonho lúcido, e claro controlado apenas por mim. A idealização se ambientava num lugar qualquer aqui no Sul do Brasil, onde a vida seria tranquila com bons amigos e porque não bons familiares, num dia qualquer... Tudo muito pacato, ao vento tranquilo que balança o lençol no varal e à sombra da copa da árvore. Me senti calmo, gratificado. Voltei a mim e decidi tirar a foto que pode ser vista ao lado.
Imagine esta cena ao som de alguma banda ou cantor de rock relaxante; Sabonetes, Bob Dylan ou Mutantes. Excelente! Essas idealizações superam a realidade em muito, gosto delas, e aposto que muitos também as preferem em alguns momentos.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Desprezo

"O medo do desprezo não é senão a projeção nos outros do desprezo que se tem em si mesmo e o desprezo de si mesmo, por sua vez, a interiorização do juízo dos outros, feito juízo próprio."

– Paul Marie Veyne

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Gafes

O ser humano é um ser errante, e sendo ser errante nada mais natural que errar. Digo; natural, porém inconveniente.
Apesar da natureza errante, o ser humano costuma construir (tanto literalmente como figurativamente) um mundo artificial, de tal modo artificial que influencia em suas ações, outrora, naturais. Mas, de qualquer modo, por mais não natural que sejamos em tempos atuais, algo ainda nos escapa, vez ou outra. Esse algo, são as gafes.
Quem gosta de gafes? Atrevo dizer que ninguém, além de leitores de revistas de fofoca sobre famosos. Melhor dizendo; eu não gosto de gafes, de erros, gosto da perfeição (o que diga-se de passagem, pode levar a inúmeras frustrações), mas não sendo perfeccionista. Convém admitir as próprias falhas, convém admitir a própria natureza errante, convém admitir, portanto, todas as gafes.
Venho me redimir com o(a) leitor(a): Logo na primeira postagem deste blog, cometi uma gafe, e uma gafe enorme. No segundo parágrafo da postagem anterior, escrevi o seguinte; "Pensei nas relação quase que simbólica das últimas semanas com os últimos anos; uma relação instríseca, uma relação húmida." Lamentável, não é? Qualquer pessoa que tenha cursado até a 2ª série primária nota o erro de concordância. Pois bem, deixe-me corrigir a frase: Pensei na relação quase simbólica das últimas semanas com os últimos anos; uma relação instríseca, uma relação húmida.

Muito melhor agora.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Águas

Existem pessoas que caracterizam a água como um elemento de leveza, de tranquilidade; um elemento com conotação pueril. De tão pura, se tornou símbolo religioso de nova vida no cristianismo. Enfim; as águas renovam.
Me soa conveniente refletir sobre a água (elemento muito propício à reflexão, tanto fisicamente como internamente, isto é, uma reflexão do fundo de nossa consciência).

Desde criança a água se apresenta com frequência em minhas memórias; das mais banais às mais doces, das mais importantes às mais amargas, e o resultado, é claro, é a pura nostalgia. Nostalgia... Tão constante em minhas lembranças como a água. Hoje, como de praxe, estive um tanto nostálgico. Pensei nas relação quase que simbólica das últimas semanas com os últimos anos; uma relação instríseca, uma relação húmida.
À tarde, estava eu a ler não muito enfadonhamente Memórias Póstumas de Brás Cubas, na varanda ao som da chuva e ao soprar da brisa. Enquanto lia, me sentia tão inerte, passivo, sereno. Lembrei-me de coisas como o parque Barigüi (que aliás está sendo castigado pelas próprias águas somadas às da chuva quase incessante) e outras coisas diversas que dizem respeito ao meu passado.
Por falar nesta chuva incessante que vem castigando Curitiba, arrisco dizer que o parque Barigüi e eu estamos passando pela mesma situação: as águas dos últimos dias estão a nos lavar em seu frescor aterrorizante e hipnotizante, elas predizem a mudança em cada gota, e, embora não seja aparente, estão nos limpando e nos livrando das roupagens antigas. Além de destruir, a água refresca, mas muitos não se contentam com o gosto simples da água; acrescentam sabores tais como os dos chás. Chás que deixam suas excências sangrarem para serem dissolvidas e acalmadas pelas águas para que se obtenha um paladar agradável, semelhantes às memórias que se deixam dissolver para que se obtenha um espírito mais puro e mais agradável. Ah, nada como boas memórias dissolvidas!