segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Nada

Saudade do tempo da escola. As coisas pareciam fáceis - sem desafios, o que tornava a vida monótona e tediosa é claro, mas atualmente é igualmente tediosa e com menos tempo de lazer -, eram fáceis, pelo menos pra mim:
Acordar, reclamar de acordar cedo e reclamar que a escola em que estudava 'era tosca', tomar café da manhã, ir pra escola, prestar atenção nas aulas que mais agradavam, dormir e conversar na maioria das outras aulas (exceto matemática, nunca podia), ir mal na educação física e ficar com vontade de ir bem, pois só assim se fazia amigos e as garotas gostariam de você. Depois ir pra casa, almoçar, ficar vendo TV, ou jogando alguma coisa qualquer no video game ou no computador. Sair para o cursinho de inglês e torcer para a aula passar rápido, torcer para pegar o ônibus rápido para não ter que fritar no sol ou ainda torcer para não ter sol (ok, isso vigora até hoje), torcer para ir bem na prova de matemática sempre aterrorizante. Ver uma garota bonita e conversar com ela, sem se importar o quão não apresentável estava, tentar ser amigo dela e também do garoto baixinho, que embora também fosse um desastre nos esportes, era reconhecido. Nem sempre conseguir. Voltar pra casa, jantar, ver mais TV, tomar banho e dormir. Que agradável, que cômodo.

O que considerava difícil e chato eram as coisas mais banais do mundo; como ir buscar o resultado de um exame médico. Ou ir com meus pais no médico, em alguma zona rica da cidade.
Me lembro de um desses dias de inverno curitibano, não os ensolarados de frio e geada, mas desses cinzentos, com vento frio e garoa ou chuva... Estava no carro numa avenida de um bairro meio chique, esperando meus pais voltarem de um desses médicos de clínicas igualmente chiques. Ligava o rádio na estação famosinha e começava a sentir algum desconforto, trocava para a estação de rock, ouvia Green Day, U2, Nirvana... Keane. Cansava, voltava para a estação famosinha, e escutava mais Keane - estava na moda. Músicas melancólicas, porém gostosas de se ouvir. Lembro que a chuva estava começando a cair, e as dondocas que passeavam com seus cachorros bonitos desapareceram rapidamente naquele fim de tarde, as garotas que passeavam por alí e que voltavam do colégio se protegiam como podiam da garoa que engrossava, o senhor aparentemente simpático, jogara seu jornal no lixo e apagara seu cachimbo e se abrigara próximo do médico onde estavam meus pais.

Queria jogar video game, afinal, não tinha vida social. Mas depois de duas horas no banco de trás de um carro esperando, foi natural começar a pensar sobre essa escolha. Porque o video game e não o telefone para falar com alguém? Porque não outra coisa qualquer? Porque não querer entrar na internet para falar com alguém, mesmo que fosse sobre video game? Porque eu estava ali no carro e não em casa, ou na casa de alguém? Tantos garotos e garotas da minha idade iam na casa um do outro durante a semana... Eu não. Claro, eu não era como eles. Olhei para cima, na sacada de um prédio de 'alto padrão' estava uma menina, da minha idade na época, com uniforme do colégio. Falava ao telefone celular, desligou e guardou o celular no bolso do casaco, e se debruçou na mureta de sua sacada, ficou olhando para o horizonte, para o nada, para as pessoas lá embaixo. Não pude saber se ela aparentava feliz ou triste, irritada. Sua expressão facial era ambígua, mas tinha certeza que havia um tom de passividade em sua atitude. Nem isso eu tinha. Nem isso. Eu mal sabia quem era, não podia dizer nem que tipo de música me agradava mais. Talvez quisesse ser exatamente o que foi descrito acima: o garoto esportivo, legal, espontâneo, com "uma família perfeita" (obviamente isso não existe, mas no mundo ideal de nossas vontades sim), alguém com a mesmas opiniões da maioria, para que não houvessem conflitos. Quem sabe isso não tenha mudado tanto, mas só 'quem sabe'. Ninguém sabe. Queria a vida dos outros, sem ser os outros, mas sendo similar. Imaginava desde então a vida desses outros, desses melhores, desses que não era. Queria tudo e não queria nada, não podia querer nada - tal como hoje.

Acho que basta, linguagem simples, sono acumulado somado à vontade de escrever e indecisão sobre quase tudo que se tem em mente geralmente não produzem boas postagens, portanto, encurtemos esta.