segunda-feira, 7 de março de 2011

Palavras

Nossas palavras são rascunhos de sentimentos e pensamentos inconstantes e indizíveis. Quantas são as vezes no dia-a-dia em que tentamos exprimir nossas aspirações mais sinceras e falhamos pois seu sentido não cabe em uma palavra, ou uma frase? Esqueça o que foi dito, as palavras não existem por haver sentido em nelas mesmas; nelas há sentimento. Que angústia não ser capaz de disseminar, de expor o verdadeiro sentimento característico de cada palavra em cada situação!

O ser humano mesmo em sua complexidade não está apto para viver sozinho, à deriva (por mais que assim se sinta). Não sendo auto-suficiente, se fez necessária a palavra, a elaboração das mesmas, as orações, a comunicação enfim.

Palavras-cruzadas lançadas ao acaso
A comunicação, base da complexidade humana, presente no cotidiano de cada indivíduo, sujeita à livre interpretação das palavras - sem valorações de boa ou ruim, não, isso não - que nos são ditas torna-se também arma nata do homem. Desde cedo proferindo o que considera pertinente a ser compartilhado, o homem se torna o homem-palavra.

O homem cresce, se desenvolve e segue a proferir suas palavras. Um dia pára para refletir sobre elas. Mais uma vez; que angústia! Se vê perdido em meio a um turbilhão de frases, de avisos, de leituras, de imagens que lhe falam, de conversas e discussões. Todas soam como palavras-cruzadas lançadas ao acaso, dotadas uma pretensão frustrada, ecoando na mente do homem, este homem-palavra que já não tem controle sobre a palavra. Este homem que agora é escravo da dúvida, da subjetividade, da interpretação da palavra. Este homem que agora não é mais palavra.

Sem a palavra não pode mais tentar contar ao entorno seus sentimentos, mas nem por isso deixa de senti-los.

Depois de certo tempo, o homem volta a ser palavra; afinal ele sempre foi escravo da palavra, e a palavra sempre teve natureza dual sendo senhora e serva do homem. Serva má é verdade, serva que não atende a todas as necessidades; senhora dona de uma sutileza impetuosa que prende a todos. A palavra sempre atrelada aos homens. Para sua alegria ou sua ruína, sempre com suas duas faces a existir mesmo depois do homem, mesmo depois do homem voltar a ser homem-palavra... A palavra existirá em si, enquanto palavra proferida por outro homem.

Que fique claro que nem este, nem nenhum texto jamais estará apto a expressar francamente o real intento das palavras tão pouco os sentimentos a elas agregados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário